Peru registra primeiro caso de pólio em 32 anos, detectado no distrito de Manseriche, situado a 500 quilômetros da fronteira com o Amazonas e o Acre
Por Leonardo Weissmann
A Região das Américas foi certificada em 1994 como área livre de circulação do poliovírus selvagem em seus países/territórios. No Brasil, o último caso detectado de poliomielite foi diagnosticado na cidade de Sousa, na Paraíba, em 1989.
No último dia 21 de março, o Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz, no Brasil (uma referência para a pólio na região), detectou a presença do poliovírus tipo 1 derivado da vacina em amostra de fezes colhida em uma criança indígena de um ano e quatro meses, que vive no distrito de Manseriche, no Departamento de Loreto, no Peru. A criança não havia sido vacinada e apresentou febre e fraqueza nos membros inferiores (pernas).
A localidade fica a aproximadamente 500 quilômetros do Brasil, em uma região com inúmeros rios, fazendo com que o deslocamento pela via fluvial seja frequente (veja o mapa na página ao lado).
Destaca-se também que há inúmeras cidades brasileiras do estado do Amazonas e do Acre que fazem fronteira com o Peru. A meta de cobertura vacinal contra a pólio recomendada pela Organização Mundial da Saúde é de 95%. Porém, nos últimos cinco anos o distrito de Manseriche registrou as seguintes taxas da terceira dose da vacina oral: 87,4% (2018); 96,5% (2019); 66,6% (2020); 33,8% (2021); e 43,6% (2022).
ATENÇÃO E TRABALHO
Destacamos que a causa de poliovírus derivado da vacina são as baixas coberturas vacinais. Quanto menor a cobertura vacinal da população, mais tempo esse vírus circula e mais alterações genéticas pode sofrer, causando paralisia assim como o poliovírus selvagem.
O Brasil sempre foi uma referência em vacinação. Entretanto, desde 2016 estamos apresentando as menores coberturas vacinais da história. A detecção de um caso em um país vizinho ao nosso reforça a necessidade de revertermos essa situação, especialmente nos estados do Acre e do Amazonas e nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas da região. As vacinas funcionam e o progresso alcançado na luta contra a pólio é prova disso.
Quando o Rotary criou o Polio Plus, em 1985, a doença paralisava mais de 1.000 crianças todos os dias em 125 países endêmicos. Hoje, somente dois países permanecem endêmicos do vírus selvagem da pólio (Afeganistão e Paquistão).
O Brasil está livre desse mal desde 1989, mas o nosso trabalho não pode parar, muito pelo contrário. Enquanto uma pessoa tiver pólio no mundo, a ameaça continua. As baixas coberturas vacinais no país fazem com que o risco seja muito maior. Então, vamos manter nossos esforços, usando a liderança do Rotary, divulgando mensagens positivas, fazendo parcerias e incentivando a vacinação.
O trabalho não é fácil. Porém, com determinação e empenho de todos, é possível imaginarmos um mundo livre da pólio e podermos nos orgulhar futuramente de um feito de grandiosidade inimaginável.