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A acuidade visual, capacidade dos olhos de distinguir objetos, formas e contornos, é um dos principais fatores que interferem no processo de aprendizagem de crianças em idade pré-escolar e escolar. Para aferi-la, a forma mais simples é o uso da Escala Optométrica de Snellen, um teste sem finalidade diagnóstica, porém possível de ser aplicado em ambiente escolar. No entanto, no Brasil – onde menos de 10% das crianças passam por exame oftalmológico antes de ingressar na escola –, programas obrigatórios de testagem de acuidade visual dos estudantes não estão previstos.

Até pouco tempo atrás, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia estabelecia em 20% o número de crianças em idade escolar com problemas oftalmológicos, percentual que provavelmente cresceu desde a pandemia de Covid-19. Um estudo da Universidade Chinesa de Hong Kong analisou dados de mais de 20 mil crianças com idades entre seis e oito anos no período de 2015 a 2021 e constatou que a incidência de miopia subiu 28,8% em 2020 e 36,2% em 2021. Em dezembro passado, a Agência Brasil noticiou que a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo identificou, entre crianças e adolescentes de até 19 anos, um aumento de 134% nos casos de miopia nos dois anos anteriores. Para a Organização Mundial da Saúde, a ampliação da incidência de miopia no mundo já é considerada uma epidemia.

Hoje CEO da Planeta Azul Editora, Zélia Guerra foi uma criança que enfrentou dificuldades de aprendizado em decorrência de problemas oftalmológicos. Por isso, em 2022-23, ano em que presidiu o Rotary Club do Rio de Janeiro-Tijuca (distrito 4571), ela idealizou o Para Te Ver Melhor, projeto voltado a oferecer saúde ocular a estudantes da Escola Municipal Leitão da Cunha, na Zona Norte carioca, por meio de exames e diagnósticos. “No primeiro dia, das 41 crianças, 29 apresentaram problemas visuais”, Zélia conta. “Dentre estas, três com problemas gravíssimos.” Parcerias com Adilson Dantas, optometrista e proprietário da Ótica Tijuquinha, e Eliane Nogueira Rodrigues, ortoptista da clínica de reabilitação visual Rever, viabilizaram a iniciativa. Sete alunos e professores de óptica e optometria da Universidade Cruzeiro do Sul integraram a equipe que visitou a escola para aferir a acuidade visual das crianças, com supervisão de Eliane e suporte de associados ao clube.

NO SUL

Garantir a crianças as condições necessárias para uma boa visão é uma das grandes preocupações de Rotary Clubs brasileiros. No extremo sul do Rio Grande do Sul, por exemplo, o Visão Para Sempre (abordado na reportagem de capa da Rotary Brasil em junho de 2022 e no episódio de estreia do podcast da revista), criado há 20 anos pelo Rotary Club de Dom Pedrito (distrito 4780), começou como um projeto do clube e se transformou em um programa municipal que atende todas as crianças da cidade até cinco anos de idade. O Visão Para Sempre detecta a ambliopia, um problema pouco conhecido que, se não corrigido, leva à baixa acuidade visual ou cegueira irreversível.

No Paraná, o Rotary Club de Paranavaí-Entre Rios (distrito 4630) concluiu em meados de maio a 13ª edição do Boa Visão, projeto iniciado em 2011. Desta vez, foram avaliadas 252 crianças na Escola Municipal Santos Dumont – 52 foram encaminhadas para exames com oftalmologistas e 31 precisaram receber óculos. “Até esta edição de 2023, o clube já realizou 3.483 testes de acuidade visual, 596 consultas e 296 doações de óculos”, relata Onivaldo Izidoro Pereira, presidente da Comissão de Imagem Pública do Paranavaí-Entre Rios. O Boa Visão é realizado de uma a duas vezes por ano com a Secretaria Municipal de Educação e as parcerias de oftalmologistas e laboratórios de óptica. O oftalmologista e rotariano Rubens Costa Monteiro Filho ajuda a coordenar os atendimentos.

Na Zona Norte carioca, os testes também vão prosseguir. O Rio de Janeiro-Tijuca assegurou a continuidade do Para Te Ver Melhor em 2023-24, e Zélia tem uma boa notícia para os alunos da rede municipal de ensino tijucana: “Pretendemos ainda este ano implantar em mais duas escolas”.